domingo, 8 de abril de 2012

ENTREVISTA COM DOM ZENO HASTENTEUFEL - FUNDADOR DO CLJ!

Dom Zeno Hastenteufel 1ºCLJ¹ - Fundador do CLJ em seu gabinete

Lá pelos primeiros dias de janeiro, conseguimos entrar em contato com uma pessoa realmente especial. E no dia 15 de janeiro, foi feita a entrevista com ele, Dom Zeno Hastenteufel, Bispo da Diocese de Novo Hamburgo - RS, fundador e primeiro diretor espirítual do Curso de Liderança Juvenil, o nosso querido CLJ.


Dom Zeno além de ser conhecido pela iniciativa muito bem sucedida que foi o CLJ (afinal, ele se alastrou pelo estado do RS, está presente em algumas cidades do Paraná e Sta Catarina, com pedidos de implantação no Uruguai), ele também já foi professor no curso de Teologia na PUCRS, pároco, foi editor dos jornais Mundo Jovem e Novo Milênio, atuou em um programa de rádio e escreveu livros sobre a história da Igreja. 

Muito receptivo e paciente (esta entrevista deveria ter saído em vídeo, porém a câmera pifou na frente do Bispo, imaginem a nossa cara na hora), ele nos contou um pouco sobre a história, a origem e os bastidores da criação do CLJ na paróquia São Pedro em Porto Alegre - RS, quando ainda era padre. Sem mais delongas, vamos á entrevista.

CLJ NSG: O senhor participou de algum grupo de jovens como o CLJ na sua juventude?
Dom Zeno: É preciso esclarecer que passei toda a minha juventude no seminário, entrei em Gravataí dia 29 de fevereiro de 1960, com 13 anos, e terminei em dezembro de 1972, com 26 anos, já padre ordenado.

Mas aos 16 anos, em Gravataí, eu fui me entrosando na Juventude Estudantil Católica (JEC). Naquele tempo a ação católica tinha cinco ramos: JAC, JEC, JIC, JOC e JUC. É claro que como estudante me interessei pela JEC, de Gravataí. Depois fui me entrosando na JEC da região, que abrangia Gravataí, Taquara, Santo Antônio e Osório. Em Viamão, participei da JEC estadual e regional, para RS e SC. Foi quando, em 1968, os bispos fecharam a JEC.

Fecharam, porque o nosso movimento tinha assumido uma forte posição política contra a revolução de 64, que tinha perseguido muitos de nossos líderes e até nossos padres assistentes. Então, com a publicação do AI 5, ficou insustentável a Ação Católica como um todo, e tudo acabou.

Eu então, me entrosei na equipe que no Seminário de Viamão fazia o jornal Mundo Jovem. Durante os três últimos de seminário eu cheguei a assumir a Direção Geral do Mundo Jovem.

CLJ NSG: E como surgiu a ideia do CLJ?
Dom Zeno: Então, em 1973, com meio ano de padre, fui nomeado para a paróquia São Pedro, em Porto Alegre. Lá encontrei uma paróquia dinâmica, com boa catequese, com bons grupos de casais do MFC (Movimento Familiar Cristão) e um grupo de jovens (MEF - Movimento Estudantil Floresta) que não queria nada com a Igreja. Ninguém deles frequentava a Igreja. A reunião era domingo á noite, no horário da missa. Então, como padre, não podia participar das reuniões. E o grupo foi acabando aos poucos. Foi uma espécie de eutanásia.

Na Igreja simplesmente não havia jovens. Tenho convicção que no primeiro ano de São Pedro não dei comunhão a jovem algum. Havia uma certa revolta, porque os bispos haviam acabado com a Ação Católica.

Em 1974, Dom Antônio Cheuíche trouxa para Porto Alegre o movimento Emaús. Na mesma época, nós estávamos acompanhando um grupo de crismandos. Eram uns setenta jovens, que vinham para as "aulas de Crisma". Estas eram bem preparadas, dadas pelos dois padres. Os alunos entendiam tudo, mas, não vinham para a missa, não participavam de nada, só das aulas, em vista da crisma.

Foi então que marcamos um Retiro de Crismandos, para os dias 14 e 15 de julho. Deveria ser para todos eles, mas inscreveram-se apenas 30, e no dia marcado compareceram apenas 19. Com estes então, mais a irmã Jocélia Scherer, um casal, e uns 5 ou 6 jovens do Emaús, fomos para a Casa Medianeira em Porto Alegre, para o tal retiro. Tínhamos um esquema geral e os jovens cuidavam do folclore e da disciplina da casa. O resultado foi fantástico, depois de alguns eventos, todos estavam entusiasmados, foi uma festa indescritível. Todos aqueles jovens jamais tinham visto algo parecido.

No dia seguinte, todos estávamos entusiasmados. Queriam que fizéssemos um segundo retiro destes, para os colegas que não tinham vindo no primeiro. Então no domingo de tarde, fizemos um trabalho em grupo, para ver como se deveria chamar um retiro destes. Apareceu a ideia de CLJ - Curso de Liderança Juvenil. Foi aprovado por unanimidade.

Eu então deixei claro,que haveria um segundo clj se eles todos perseverassem e tratassem de inscrever os jovens. Eu não faria nada neste sentido. Seria tudo com eles. E começamos a valorizar a frase de Paulo VI: O jovem é apóstolo de jovens.

Perseverar seria: Ir todos os sábados aos encontros, onde se faria uma palestra para o grande grupo, reuniões. Depois, todos participariam de um dos departamentos: Liturgia, Cultural e Social¹ (só criamos três no começo). No departamento deveriam trabalhar, no grupo deveriam crescer espiritualmente. Este era o pensamento de então.

A partir do primeiro CLJ, todos estes jovens vinham aos sábados para os encontros e no domingo nós assumimos a missa das 11. Era a missa do CLJ. Em pouco tempo era uma atração em Porto Alegre. Vinha gente de todos os lados.O grupo estava entusiasmado com o 2ºCLJ marcado para os dias 14 e 15 de novembro. O CLJ ainda começava no sábado de manha bem cedo.

No dia 14 de novembro, la estavam todos os 55 jovens inscritos, não faltou ninguém. Já tínhamos agora um manual para o coordenador e mais alguns eventos. O curso foi fantástico, todos perseveraram. Missas até em dia de semana. Mas, vieram as férias. A maioria tinha casa em Capão ou em Atlântida. Eu fui com eles. Lá fazíamos missas todos os dias ou numa ou noutra praia. De noite, reuniões, já planejando o ano seguinte.

Planejamos então um retiro, para os dias 01 e 02 de maio, com todos do 1º e do 2ºCLJ. Neste retiro, começamos a elaborar as diretrizes e bases. Ali, os jovens vieram com o pedido de uma missa no meio da semana, á noite, sem pressa... Eu então sugeri na quarta, as 22h. É que antes eu tinha sempre reunião com noivos. Depois eu estava livre.

Eles toparam, e foi a melhor coisa que podia acontecer. Naquela hora, os pais tinham que trazer e esperar... Era uma missa longa... Diferente... No Evangelho, todos falar. A missa tinha a característica que todos os jovens sentavam ao redor do altar, sentados no chão. Era a chamada "Serenata à Jesus Cristo". Foi um assunto, a polícia organizava o transito em frente a São Pedro. Os canais de TV vinham fazer reportagem. Várias vezes a missa toda era televisionada e os familiares assistiam em casa. Dai a ideia do serenatão.

CLJ NSG: Porque a escolha da canção "Unidos" como hino do movimento?
Dom Zeno: Acontece que, em 1970, o canto de entrada da Campanha da Fraternidade era Unidos estamos aqui. Uma música que logo os jovens aprenderam e todos gostaram, foi se tornando hino sem querer.

CLJ NSG: Houve algum empecilho ou alguém contra durante o início do movimento, como ele conseguiu se consolidar?
Dom Zeno: Em 1975, Dom Vicente Scherer deu oficialmente autorização para continuar fazendo o CLJ, porque já havia gente contra, especialmente algumas velhinhas escandalizadas com beijos e abraços na Igreja, antes inimagináveis e agora normais, e também alguns padres. Mas, o Arcebispo aprovando não havia mais problema.

Em 1976 o CLJ passou a ser um movimento diocesano. E logo, entraram outras paróquias, como a Sagrada Família, a Piedade, a Pão dos pobres, a Fátima. Depois em 77 fomos para Canela, Gramado e Novo Hamburgo. Depois foi também para Uruguaiana e Quaraí.

Em 1981, eu e o Pe. Jacinto da São Pedro fomos enviados para Roma, para fins de estudo. Até ali, nós eramos os principais Diretores Espirituais. De repente, tiveram que improvisar novos diretores espirituais. Com isto foram feitos alguns acréscimos...

Em 1984, na minha volta, fizemos uma profunda mudança no CLJ. Criamos então as diferentes etapas: CLJ1, CLJ2 e CLJ3. Criamos novas diretrizes e bases que estão em vigor até hoje, organizamos bem melhor o Pré e o Pós. Também ampliamos o curso para três dias completos. E o CLJ foi para Passo Fundo, Frederico Westphalen, Vacaria, além da Grande difusão nas Dioceses de Novo Hamburgo e Osório.

CLJ NSG: Como foi a recepção por parte dos militares, afinal um ex membro da JEC estava criando um curso que formava líderes?
Dom Zeno: No início tínhamos um advogado na secretária da São Pedro, para provar que o movimento não tinha nenhuma posição política ou revolucionário. Foi assim que o CLJ conseguiu sobreviver por estes tempos, se mantendo as margens da política.
CLJGN

Você deve estar se perguntando agora, "mas tão poucas perguntas?". Sim, nós tínhamos um roteiro extenso de perguntas para fazer para ele. Porém, acabaram sendo respondidas várias perguntas do nosso roteiro na resposta de outras.

E para não deixar passar em branco, conseguimos tirar algumas fotos com o celular, afinal, a câmera estava inútil, mas desde que resolveram misturar celular e câmera fotográfica, tudo ficou mais fácil. Então porque não filmar com o celular? Sim nós tentamos, porém a qualidade de áudio e vídeo era péssima, então acabaram sendo só as fotos mesmo.

Aqui, o nosso querido Dom Zeno com uma duplinha cujo o médico deu um tapa na testa ao nascer, de tão feios que são: Guilherme Mello e Luís Gustavo Jr, ambos do 49ºCLJ.

Dom Zeno e Luís Gustavo Jr 49ºCLJ

Dom Zeno e Guilherme Mello 49ºCLJ
Guilherme Mello 49ºCLJ
Luís Gustavo Jr 49ºCLJ

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